Durante uma conversa recente sobre carreira, alguém me perguntou como mediriam seu próprio crescimento profissional. A pergunta me pegou de surpresa. A pessoa estava esperando que eu mostrasse como as empresas medem isso, não o contrário.

Mostrei exemplos típicos de métricas corporativas: KPIs, metas atingidas, projetos entregues, feedback de stakeholders. Tudo muito quantificável e objetivo. Mas algo não encaixava. A pessoa se sentia diferente de como estava há um ano, mas os números não capturavam essa diferença.

Isso me levou a uma reflexão que durou semanas. Como realmente medimos crescimento profissional? As métricas tradicionais – salário, cargo, responsabilidades – contam apenas parte da história. Elas mostram o que conquistamos, não quem nos tornamos.

O problema das métricas óbvias

Durante uma conversa casual com uma colega que trabalha em RH, ela contou sobre um fenômeno interessante. Muitos funcionários com métricas excelentes pedem demissão. E muitos com métricas medianas são promovidos. O que está acontecendo?

A resposta, ela disse, é que métricas tradicionais medem output, não transformação. Elas capturam o que você produziu, não como você mudou. E crescimento real é sobre transformação.

Pensei em exemplos que observei ao longo do tempo. Muitas pessoas são excelentes em executar análises complexas, mas travam quando precisam explicar os resultados para não-técnicos. Outras conseguem traduzir insights técnicos em linguagem que qualquer executivo entende. A “métrica” de apresentações pode não mudar muito, mas a capacidade de impacto sim.

A teoria da densidade de competência

Existe uma teoria interessante que chamo de “densidade de competência”. É a ideia de que crescimento real acontece quando você consegue resolver problemas de uma ordem de magnitude maior, não apenas mais problemas do mesmo tipo.

Imagine que você é um analista de dados. Resolver 100 análises de vendas é diferente de resolver 1 análise que muda a estratégia da empresa. A segunda opção requer não apenas competência técnica, mas visão de negócio, comunicação, e capacidade de influência.

Uma métrica interessante para isso é o “teste do problema impossível”. Que tipo de problema que hoje parece impossível de resolver, você gostaria de conseguir resolver daqui a dois anos? Se a resposta não mudou, provavelmente não está crescendo.

O paradoxo da especialização

Aqui está algo contra-intuitivo que observei: especialização excessiva pode ser um sinal de estagnação, não de crescimento.

Muitas pessoas se tornam extremamente especializadas em uma ferramenta ou metodologia específica. Elas são reconhecidas como experts, ganham bem, mas ficam presas. Quando a tecnologia muda ou o mercado evolui, elas lutam para se adaptar.

O verdadeiro crescimento, na experiência de muitos profissionais, acontece quando você desenvolve competências que são transferíveis entre contextos diferentes. Comunicação, pensamento crítico, capacidade de aprender rapidamente. Essas são as habilidades que te permitem navegar mudanças e aproveitar novas oportunidades.

A métrica da curiosidade

Uma amiga que trabalha em uma consultoria contou sobre um exercício que ela faz todo final de ano. Ela lista todas as perguntas que não sabia responder no início do ano, e todas as perguntas que não sabe responder agora. Se a segunda lista não é significativamente diferente da primeira, ela considera que não cresceu o suficiente.

Isso me fez pensar sobre a relação entre conhecimento e ignorância. Quanto mais você sabe, mais você percebe o que não sabe. E essa percepção de ignorância é, paradoxalmente, um sinal de crescimento.

Efeito Dunning-Kruger

O gráfico mostra como nossa percepção de competência muda conforme nossa competência real aumenta - um paradoxo que explica por que pessoas experientes tendem a ser mais humildes sobre suas habilidades.

Uma versão interessante desse exercício é diferente. Todo mês, anote uma pergunta que deixa genuinamente curioso sobre seu trabalho. Se as perguntas ficam muito parecidas mês após mês, você pode estar estagnando. Se elas evoluem e se tornam mais sofisticadas, você está crescendo.

O teste da retrospectiva

Há um exercício interessante que pode ajudar a medir crescimento de forma mais sutil. Pergunte-se: que problema que assustava há um ano, hoje excita? Que conversa que não conseguia ter há um ano, hoje tem com naturalidade?

Essas mudanças são difíceis de quantificar, mas são reais. Elas representam crescimento em confiança, maturidade, e capacidade de impacto.

Por exemplo, muitas pessoas evitam apresentações para executivos no início da carreira. Com o tempo, não apenas fazem essas apresentações, como passam a gostar delas. Não é que se tornaram melhores em falar em público – é que desenvolveram uma compreensão mais profunda do que os executivos realmente querem saber, e como estruturar informações de forma que faça sentido para eles.

A métrica do impacto indireto

Outra forma de medir crescimento é através do impacto indireto. Quantas pessoas você consegue influenciar positivamente através do seu trabalho? Quantas decisões melhores são tomadas porque você existe?

Isso é diferente de medir seu impacto direto. Não é sobre quantos projetos você entregou, mas sobre quantas pessoas você ajudou a crescer, quantas ideias você plantou, quantas conversas você facilitou.

Uma métrica interessante é: quantas pessoas procuram você para conselhos sobre carreira ou trabalho? Se esse número está crescendo, é um sinal de que está desenvolvendo não apenas competência, mas sabedoria.

Talvez possamos medir crescimento por quantas novas opções ganhamos ou perdemos. Que opções estão disponíveis hoje que não estavam disponíveis há 5 anos? Que opções estavam disponíveis há 5 anos que não estão mais disponíveis agora? Mais importante, que opções que não estão disponíveis hoje queremos daqui a 5 anos?

Caminhos de Vida

Conforme o tempo passa, muitas portas se fecham para nós, mas muitas novas portas se abrem. O diagrama ilustra como nossas escolhas passadas (linhas pretas à esquerda) limitam algumas possibilidades, mas o presente sempre oferece infinitas oportunidades futuras (linhas verdes à direita). Crédito: Tim Urban, Wait But Why

Conclusão: crescendo além das métricas

O crescimento profissional real é sutil. Ele acontece em conversas, em momentos de insight, em pequenas mudanças de perspectiva. É difícil de medir, mas impossível de ignorar quando acontece.

As métricas tradicionais têm seu lugar. Elas são importantes para organizações e para planejamento de carreira. Mas elas não capturam a essência do crescimento.

A sugestão? Encontre suas próprias métricas. Aquelas que fazem sentido para o tipo de pessoa que você quer se tornar. Porque no final das contas, crescimento profissional não é sobre se tornar melhor no que você faz. É sobre se tornar uma pessoa melhor através do que você faz.

E isso, infelizmente, não tem dashboard.